Conteúdo publicado no Conselho Federal de Química em 18/03/2020
Diante de dúvidas da sociedade e questionamentos trazidos ao Conselho Federal de Química (CFQ) sobre os mais diversos assuntos relacionados ao COVID-19, bem como a propagação nas redes sociais de informações inverídicas ou incorretas, viemos a público trazer alguns esclarecimentos:
1) Álcool Gel é eficaz contra o novo coronavírus?
Sim. Além de ser recomendado pelas autoridades nacionais e internacionais de saúde, como a Organização Mundial de Saúde – OMS e o Ministério da Saúde do Brasil, o CFQ emitiu uma nota em 28/02/2020 onde fala mais sobre o assunto. Leia-a aqui.
2) Posso produzir meu próprio álcool gel em casa?
Algumas receitas caseiras estão circulando na internet e, em geral, recomendam a produção do álcool em gel a partir do álcool líquido concentrado. O CFQ preza pela segurança da população brasileira, por isso, não recomenda essa prática tanto pelos riscos associados quanto por confrontar a legislação brasileira.
3) Quais os riscos associados à produção caseira de álcool em gel?
Quando se utiliza álcool líquido em elevadas concentrações, aumenta-se bastante o risco de acidentes que podem provocar incêndios, queimaduras de grau elevado e irritação da pele e mucosas. A venda de álcool líquido em concentrações superiores a 54 °GL está, inclusive, desautorizada pela ANVISA desde 2013, conforme resolução RDC nº 46, de 20 de fevereiro de 2002, que considerou os riscos oferecidos à saúde pública decorrentes de acidentes por queimadura e ingestão. Para soluções com graduação acima de 54 °GL, a norma permite a forma em gel.
Além disso, a depender do que se utiliza como espessante, ao invés de eliminar microrganismos pode-se potencializar sua proliferação.
Os produtos industrializados passam por rigoroso processo de produção, onde há padrões a serem seguidos, todas as etapas são monitoradas e passam por controles de modo a haver padronização, regularidade e qualidade dos produtos disponibilizados ao consumidor final. Já o álcool em gel fabricado a partir de receitas e métodos caseiros não passa por nenhum controle de qualidade, por isso sem garantia de eficácia.
4) O que significam as siglas INPM e GL nos rótulos do álcool em gel?
Ambas se referem ao grau alcoólico da solução. INPM significa Instituto Nacional de Pesos e Medidas e o °INPM observado nos rótulos indica uma relação percentual de massa. GL é a abreviação de Gay-Lussac e o °GL observado nos rótulos refere-se a uma relação percentual de volume. Assim, quanto maior a graduação, maior a quantidade percentual de álcool.
5) Há diferença entre °INPM e °GL?
Sim, pois as unidades medem a razão entre grandezas diferentes, massa e volume. Para relacionar massa e volume utiliza-se a densidade. O álcool etílico possui densidade igual a 0,789 g/cm³, isso significa que a massa de álcool presente numa solução 70 °INPM é maior que aquela massa presente numa solução 70 °GL. Elas somente seriam iguais se a densidade fosse igual a 1 (um).
6) Por que usar álcool em gel contra o novo coronavírus?
O álcool gel, por ser considerado antisséptico, ajuda na prevenção ao contágio pelo coronavírus e sua indicação pauta-se nas medidas de prevenção ao contágio de doenças respiratórias. Estudos demonstram melhor eficácia do produto em soluções 70%, que é o recomendado pela ANVISA para os serviços de saúde brasileiros e o indicado pela OMS na Lista de Medicamentos Essenciais.
7) O que significa dizer que um produto é antisséptico?
Quando se fala de desinfecção, fala-se do uso de métodos físicos ou químicos com a intenção de eliminar boa parte dos microrganismos patogênicos. Os produtos químicos utilizados para tal fim são chamados de germicidas e podem ser desinfetantes ou antissépticos. Os desinfetantes tem seu uso voltado para superfícies e objetos inanimados, já os antissépticos são aplicados em tecidos vivos como pele e mucosas, e por isso sua composição deve ser pensada de modo a não causar irritação.
8) Existem outros produtos antissépticos que posso utilizar contra o novo coronavírus, em substituição ao álcool etílico?
Sim. As recomendações das autoridades de saúde para higienização das mãos são tanto o álcool gel quanto a lavagem com água e sabão. Sabões, sabonetes e detergentes de um modo geral, graças às suas propriedades químicas, removem a maior parte da flora microbiana na superfície da pele. Eles são compostos de moléculas que apresentam em sua estrutura uma parte apolar e outra polar. A parte apolar, lipofílica, é quimicamente atraída pelas moléculas apolares dos lipídios constituintes da membrana celular dos microrganismos. Simultaneamente, a parte polar interage com as moléculas de água (que também é polar). Essas interações simultâneas fazem com que os microrganismos sejam envolvidos pelo sabão, retirados da pele e levados embora com a água.
Apesar de haver outras substâncias elencadas pela literatura como antissépticos (como clorexidina, compostos clorados, quaternários de amônio, dentre outros), o CFQ reforça a importância de seguir as orientações da OMS e do Ministério da Saúde do Brasil e recomenda o álcool etílico, em gel.
O álcool isopropílico tem sido sugerido como alternativa ao álcool etílico, entretanto, ressalva-se que este álcool provoca maior secura da pele, é duas vezes mais tóxico e sua atividade sobre vírus é inferior ao álcool etílico.
Ressalta-se, ainda, que não é recomendado o uso do vinagre contra o novo coronavírus e deve-se tomar cuidado no uso de outros ácidos (como o suco de limão), pois podem lesionar a pele.
9) Não encontrei álcool gel para comprar, posso usar etanol de combustível ou de bebidas alcóolicas?
Não se recomendam opções como estas. Apesar do combustível e das bebidas alcoólicas possuírem álcool etílico em suas composições, cada produto apresenta graduação alcoólica própria, é pensado para uma finalidade específica e suas formulações contém outras substâncias adicionadas exatamente para tais fins, podendo provocar reações indesejáveis na pele ou danificar superfícies, além de não possuírem garantia de eficácia germicida.
10) Por que soluções de álcool gel 70%? Não seria melhor usar soluções mais concentradas?
Várias pesquisas realizadas em todo o mundo registraram que a melhor eficácia do álcool etílico contra microrganismos patogênicos é observada com soluções nessa graduação de 70%. Em soluções de graduação alcoólica muito superiores, ao contrário do que o senso comum espera, a eficácia é menor. Isso se explica pelo fato da evaporação ser mais rápida, diminuindo o tempo de contato do álcool com o patógeno e, também, devido a necessidade de água para conduzir o álcool ao interior da célula do microrganismo, sem a água ou com água em baixas proporções, o álcool desidrata o microrganismo sem matá-lo.
A recomendação da graduação alcoólica 70% está fundamentada na melhor eficácia, todavia, também se observa eficácia em graduações um pouco maiores e um pouco menores. Alguns estudos apontam que, apesar de não apresentarem a melhor eficácia, soluções até o mínimo de 60% e o máximo de 80% também são eficazes. Cuide-se buscando o melhor.
11) O que faço se não encontrar álcool gel?
Continue higienizando suas mãos com água e sabão. Uma vez que não estará fazendo uso do álcool gel, é interessante aumentar a frequência de lavagens e também estar atento à hidratação da pele para evitar ressecamento.
12) Como me asseguro sobre a procedência do produto? Eles têm algum registro?
O rótulo é seu maior aliado. Desconfie de produtos sem rótulo ou daqueles cujo rótulo não informa o número de registro do produto ou os dados do profissional responsável técnico (nome e registro profissional).
O registro de produtos para a saúde, cosméticos e saneantes é feito na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.
13) Como higienizar meus equipamentos eletrônicos?
O mais recomendado para equipamentos eletrônicos seria o álcool isopropílico, uma vez que, por possuir um carbono a mais que o etanol na cadeia carbônica, é menos miscível em água, dificultando a oxidação das peças. Deve-se ter cuidado com a quantidade de produto aplicada, não devendo molhar o equipamento e bastando aplicar com um pano/lenço/papel embebido no álcool.
14) O que devo usar para limpar a casa?
Para cada superfície (vidro, madeira, metal, cerâmica, porcelanato, etc.) há um produto mais adequado. Assim, os mesmos produtos desinfetantes utilizados antes do surto da COVID-19 podem ser utilizados nesse momento, o importante é não descuidar da limpeza e até reforçá-la.
15) Posso higienizar as mãos com os mesmos produtos que uso na limpeza da casa?
Os produtos para limpeza da casa são classificados como desinfetantes e os destinados à higienização das mãos, antissépticos. Embora a função de ambos seja eliminar microrganismos patogênicos, suas aplicações são específicas. Não sendo indicado utilizar antissépticos na limpeza da casa e menos ainda aplicar desinfetantes na higienização das mãos. A recomendação do uso de luvas para manipulação desses produtos desinfetantes é justificada não por excesso, mas por ser preciso tomar cuidados. Produtos de limpeza doméstica podem, por exemplo, ser oxidantes ou corrosivos.
16) O CFQ fiscaliza os produtos antissépticos e desinfetantes disponibilizados ao consumidor?
Não é competência do CFQ fiscalizar os produtos nem os preços praticados pelo mercado. Aos Conselhos Regionais e Federal de Química compete a fiscalização do exercício da profissão de Químico(a).
A ANVISA é órgão responsável por fiscalizar os produtos para a saúde, cosméticos e saneantes.
Se perceber abuso de preço, não hesite em buscar o PROCON.
Conselho Federal de Química. NOTA OFICIAL (atualizada) Esclarecimentos sobre álcool gel caseiro, limpeza de eletrônicos e outros. Disponível em: http://cfq.org.br/noticia/nota-oficial-esclarecimentos-sobre-alcool-gel-caseiro-higienizacao-de-eletronicos-e-outros/#.XnAOz0a12wg.whatsapp